Imagine que seja possível fazer com que o concreto mova-se, por ação do seu próprio peso, no interior das formas, não havendo a necessidade de adensamento do mesmo. Esse post traz o tipo de concreto que é capaz de garantir o preenchimento de todos os espaços vazios uniformemente, graças a sua natureza fluida.
Origem e propriedades
O concreto auto-adensável foi desenvolvido no Japão para resolver o problema da baixa durabilidade de construções em concreto armado. Por volta de 1983 iniciaram os primeiros estudos, coordenados por Hajime Okamura. É importante frisar que aquele concreto possuía uma excelente resistência à segregação devido ao aditivo modificador de viscosidade, a base de polímeros solúveis em água. Mas este tipo de concreto não satisfez completamente às expectativas, basicamente por duas razões: a grande viscosidade impedia eliminações de bolhas de ar na massa do concreto e a compactação deste em áreas altamente reforçadas com armaduras era complicada. Assim, os estudos foram direcionados para a trabalhabilidade do concreto.
Segundo Okamura, para o concreto fluir uniformemente através de barras de aço, a tensão de cisalhamento da argamassa deve ser pequena. Esta tensão surge na argamassa, devido ao deslocamento das partículas do agregado graúdo. Observando-se resultados experimentais, Okamura concluiu que a tensão de cisalhamento da argamassa dependeria da relação água/aglomerante (a/agl), e que existia uma relação a/agl ótima para a menor tensão.
Aumentando a relação água/aglomerante, aumenta a fluidez do concreto, mas ao mesmo tempo, diminui sua viscosidade. Por isso é que para a produção de concretos auto-adensáveis é praticamente obrigatório o uso de aditivos superplastificantes e recomenda o uso de modificadores de viscosidade, o primeiro para aumentar a fluidez e o segundo para aumentar a viscosidade do concreto. Após um estudo aprofundado de todas essas informações, em 1988, foi desenvolvido o primeiro concreto auto-adensável.
Sua característica é de fluir com facilidade dentro das fôrmas, passando pelas armaduras e preenchendo os espaços sob o efeito de seu próprio peso, sem o uso de equipamento de vibração. Para lajes e calçadas, por exemplo, ele se auto nivela, eliminando a utilização de vibradores e diminuindo o número de funcionários envolvidos na concretagem.
Os materiais utilizados para a elaboração do CAA (Concreto Auto-Adensável) são, na prática, os mesmos utilizados nos concretos convencionais, porém com maior adição de finos, quer sejam adições minerais ou fílers e de aditivos plastificantes e modificadores de viscosidade.
Aplicações do concreto auto-adensável
O Concreto auto-adensável é indicado para utilização em obras convencionais onde se quer maior velocidade de concretagem, redução de custos e melhor qualidade do concreto. Também em casos específicos a sua utilização é recomendada como, por exemplo:
Vantagens
Pilares, vigas e laje concretados ao mesmo tempo!
Depois da experiência adquirida em sua obra residencial, a BKO decidiu utilizar novamente o concreto auto-adensável, dessa vez na obra da unidade JK-Itaim do Laboratório Fleury, também em São Paulo. Como se tratava de uma obra comercial, com prazo de entrega de 189 dias (, era preciso agilidade em todas as etapas da obra.
Na execução dos quatro pavimentos da estrutura, que deveriam ficar prontos em dois meses, os engenheiros optaram por uma solução pouco usual: para cada um desses níveis, concretar, ao mesmo tempo, pilares, vigas e lajes. “Com o concreto convencional, precisaríamos executar primeiro os pilares e, três dias depois, a laje e as vigas. Em cada um deles, poderíamos passar o expediente todo concretando”, explica Carlos Marucio, da BKO. Segundo ele, com o auto-adensável foi possível reduzir o tempo de execução. “Para cada um dos pavimentos, ganhamos cerca de um dia e meio no cronograma. Em dois meses, esse tempo é significativo”, acredita.
Durante a concretagem, foi possível usar cerca de 20% menos funcionários. Assim, pudemos remanejá-los para adiantar outros serviços na obra ou conceder-lhes folga. “Esse foi um aspecto importante, pois o ritmo da obra era intenso, com trabalho de segunda a sábado”, explica Marucio.
A opção pelo auto-adensável demandou cuidados maiores na montagem das fôrmas de madeira. Além da checagem minuciosa do travamento de todas as peças, os pés dos pilares – locais críticos de vazamento de concreto – foram vedados com gesso ou espuma de poliuretano. Segundo Marucio, isso não chegou a consumir horas adicionais de sua mão-de-obra. “Havia uma atenção maior a esses pontos, mas não houve acréscimo nas horas trabalhadas”, explica.